Com roupas que priorizam conforto, discrição e qualidade, Prada, Max Mara e Bottega Veneta definem novos desejos fashion em Milão
O “luxo cool”, uma tendência sutil, mas bem consistente, definiu algumas das melhores coleções apresentadas na semana de moda de Milão. Com pegada radicalmente contemporânea, é uma roupa de requinte extraordinário, essencialmente discreto. Variação do já conhecido quiet luxury, muito celebrado nas mídias sociais, esse novo luxo “silencioso” ganha, nas passarelas, versões ainda mais apuradas e refinadas.
O termo quiet luxury já é bastante autoexplicativo. Para quem ainda não se ligou, descreve um tipo de refinamento que tende a passar despercebido. Nada de logos à mostra ou tendências efêmeras e ostensivas, que chamam a atenção de cara. Trata-se de um apuro fashion distante do óbvio. Quando observado de perto, no entanto, revela o pedigree da qualidade e do design. É como um sopro de tranquilidade sobre a extremização do guarda -roupa, consequência da maneira como a mídia é consumida hoje. Na vida real, o glamour clássico – bem mais rarefeito – tem dificuldades ao lidar com a mass media e outras esferas baseadas em extravagâncias digitais.
Agora, grifes de peso como a Prada – em movimento quase rebelde – se propõem, mais que nunca, a “encontrar beleza no cotidiano”. “A vida real é muito mais rica que qualquer fantasia. Logo, mais importante”, disse Miuccia Prada. Ela e Raf Simons mostraram delicadeza com a coleção que é uma homenagem ao conforto. Para isso, o tema “uniformes” – de todos os tipos e gêneros e que, de tão familiares, nem são notados. Eles foram retrabalhados e enriquecidos com o rigor e a atenção normalmente concedidos à couture. O mix de simples pulôveres com sofisticada alfaiataria junto com a reinterpretação de formas e volumes entrega um equilíbrio casual inovador. Outra estratégia foi a de colocar, nas roupas para o dia a dia, enfeites usados em vestidos de noiva que, dependendo do ponto de vista, também são uma espécie de uniforme. Radical e sublime ao mesmo tempo.
A Itália sempre teve intimidade com o cool luxury. Discreto, o estilo sotto voce (algo como “em voz baixa”, quase em segredo, em livre tradução) é fruto da tradição centenária na excelência da fabricação de tecidos, artigos de couro e perícia na alfaiataria. Marca consagrada, a Max Mara, agora sob direção criativa de Ian Griffiths, é um exemplo. Suas roupas se mantêm clássicas de maneira refinada e são elevadas à atualidade por meio de um design moderno. Isso sem falar da Max Mara Atelier, que só fabrica outerwear premium. Essência de autenticidade da grife, valoriza a tradição para permanecer firmemente conectada com o presente. A verdadeira “viagem” não está só na perfeição ao vestir os modelos, mas especialmente na sensação do toque suave de tecidos que declaram superioridade. Não são roupas que gritam. Sussurram. É o que os insiders estão procurando no momento.
E ninguém entende tanto desse luxo mais acolhedor e discreto como Matthieu Blazy, da Bottega Veneta, com seu fabuloso truque do couro finíssimo tratado para parecer tecido. A pele imita o jeans, o algodão listrado para a confecção de ampla camisa com shorts, o tweed com franjas para o mantô espetacular. Mais incrível ainda é o chinelo-meia trançado como se fosse de malha. Só que não. É uma finíssima napa natural. Que veste com perfeição, autonomia e conforto. O auge da sofisticação silenciosa e cool.